sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Exploração da mão de obra INDÍGENA: subsistência contra o lucro

Assista ao vídeo, leia o texto e acesse o link correspondente a história do Brasil no perído colonial em seguida responda as questões propostas:




A produção agrícola indígena era voltada para subsistência, ou seja produzia apenas o necessário à sobrevivência. Não se produzia além do necessário, não havia o objetivo de comercializar o que era produzido. Tudo o que se produzia era consumido pela própria comunidade indígena. Isto gerou um choque de culturas quando ocorreram os primeiros contatos com os europeus que produziam voltados para o comércio, para a geração de excedentes.
Jean de Léry veio ao Brasil em 1556 e passou longo tempo, quando um grupo de franceses tentou estabelecer uma colônia no litoral do Rio de Janeiro sem autorização de Portugal. De volta à Europa, lançou o livro Viagem à Terra do Brasil, onde descreve minuciosamente a paisagem, a fauna e a flora da região da Baía de Guanabara, bem como a vida e os costumes indígenas. Seu relato fez muito sucesso na Europa, tendo sido traduzido para várias línguas e editado diversas vezes até o século XVIII. O trecho abaixo mostra a perplexidade do índio diante da irracionalidade das práticas mercantilistas:
Diálogo de Jean de Léry com um índio
Uma vez, um velho perguntou-me:
- Por que vindes vós outros, maírs e perôs (franceses e portugueses) buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra?
Respondi que tínhamos muita mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com os seus cordões de algodão e suas plumas. Retrucou o velho imediatamente:
- E por ventura precisais de muito?
Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados.
- Ah! Tu me contas maravilhas, mas esse homem rico de que me falas não morre?
Sim, disse eu, morre como os outros.
- E quando morrem com quem fica o que deixam?
Para seus filhos se os têm, respondi; na falta destes para os irmãos ou parentes mais próximos.
- Na verdade agora vejo que vós outros maírs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois da nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados. (Jean de Léry, Viagem à terra do Brasil, p. 169-170.)
O escambo era a troca de um produto (ibirapitanga – pau-brasil) por outro onde em troca de espelhos, pentes, pedaços de pano, chapéus, facas, machados, tesouras, anzóis de metal (os índios tinham grande interesse por ferramentas metálicas já que as mesmas encurtavam muito o tempo de trabalho) os índios cortavam e transportavam as toras de madeira nos ombros por longas distâncias até os navios.
Como resultado da intensa extração, não demorou para que o pau-brasil, em poucas décadas, começasse a se tornar escasso. Somente no século XVI foram derrubados aproximadamente 2 milhões de árvores de pau-brasil, afetando cerca de 6 mil quilômetros quadrados da Mata Atlântica, a exuberante floresta que se estendia pelo litoral brasileiro. Hoje, o pau-brasil é considerado uma árvore em vias de extinção. A extração do pau-brasil marca o início do desmatamento indiscriminado das florestas brasileiras. O mesmo destino tiveram muitas árvores frutíferas, derrubadas sem preocupação com o replantio. Este comportamento predatório tem como princípio a “crença da abundância fácil, sem trabalho e infindável. A ilusão da existência permanente de novas áreas virgens para a ocupação econômica criou atitudes, visões de mundo e táticas de exploração econômica em que tudo era tirado, destruído e abandonado a própria sorte sem reposição alguma”. (Laima Mesgravis. O Brasil nos primeiros séculos. p. 62)
Hoje em dia percebemos que, apesar de imensos, os recursos florestais brasileiros não eram inesgotáveis. Prova disso foi a devastação da Mata Atlântica. Calcula-se que, em 1500, ela ocupava uma faixa de 1 milhão de quilômetros quadrados – o equivalente a cerca de 12% da área atual do país. Sua derrubada começou com a extração do pau-brasil. Da floresta existente em 1500, hoje restam apenas 8% espalhados em matas que, em boa parte, ficam dentro de propriedades particulares.
O trabalho indígena foi sendo utilizado para outras atividades aumentando a exploração como adquirir alimentos, ajudar na construção das casas e fortificações, na derrubada das matas para o cultivo, no trabalho agrícola. Os índios por sua vez, passaram a exigir em troca produtos de melhor qualidade (espadas, mosquetes) e em maior quantidade tornando o escambo caro aos portugueses. O interesse do índio em trabalhar prestar serviços aos portugueses foi diminuindo o que gerou o trabalho forçado (escravidão) da população indígena. Este momento coincidiu com a necessidade do governo português iniciar a colonização que tinha como princípios básicos ocupar as terras, explorar riquezas e dominar as populações nativas.
Foram organizadas expedições com centenas de homens que eram compostas por uma minoria branca (comandantes que usavam botas e roupas de couro) e uma maioria mestiça e indígena (com roupas velhas e descalços). Aproveitava a rivalidade entre os índios (guaranis e tupis) atacando aldeias indígenas com o apoio da tribo rival e utilizavam os conhecimentos indígenas para sobreviver na floresta por muitos dias. Levavam apenas o indispensável: munição, armas, machados, cordas para amarrar os prisioneiros, sal e alimentos. Caçavam, pescavam, coletavam frutos e roubavam as plantações dos índios.
O governo português e a Igreja católica condenavam e dificultavam a escravização dos índios, contudo os colonos conseguiam brechas e exceções nas leis para escravizá-los. Foram variadas as formas e justificativas para a escravização dos índios a exemplo do resgate, da voluntária, do casamento forçado, da guerra justa e dos bandeirantes . No resgate índios prisioneiros condenados à morte por tribos adversárias eram vendidos aos colonizadores o que estimulava as guerras intertribais. Na voluntária os índios se ofereciam e ofereciam aos seus filhos quando escapavam da destruição das suas tribos e por não conseguirem sobreviver durante as fugas. No casamento forçado ocorriam matrimônios de índios com africanos no intuito de os filhos da relação poder ser escravizados perante a lei que proibia a escravização indígena. Na guerra justa que inicialmente só era autorizada pelo rei e pelos governantes locais contra as tribos antropofágicas. Na dos bandeirantes eram organizados grupos armados e especializados em encontrar e capturar índios para vender como escravos.




1 – O que caracteriza a produção agrícola indígena?
2 – Por que o índio no diálogo com Jean de Léry considerou os franceses grandes loucos?
3 – Quais as conseqüências da exploração do ibirapitanga para a Mata Atlântica?
4 – O que gerou a escravização dos índios?
5 – Quais as estratégias utilizadas na captura dos índios?
6 – Quais eram as formas e justificativas para a escravização dos índios?

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Nelson Marques Andrade