sábado, 9 de agosto de 2008

Expansão Marítima

Assita aos vídeos, leia o texto Navegadores e marinheiros e acesse ao link relativo a história de Portugal em seguida responda a questão proposta.

Especiarias



1492 - A Conquista do Paraíso
Vídeos sobre a expedição de Colombo






Navegadores e marinheiros

A expansão marítima surgiu de uma necessidade de aumentar o percurso por mar com intuito de reduzir os altos custos de transporte por terra ampliando a lucratividade nas vendas dos produtos vindos do oriente e crescer a quantidade de mercadorias trazidas de lá. Os portugueses bem antes da viagem às Índias, já ganhavam bom dinheiro vendendo açúcar plantado nos Açores. Mas queriam vender especiarias. "Naquele tempo não havia geladeira e a conservação da comida era um grande problema", diz o pesquisador Victor Rodrigues, do Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga de Lisboa. "As especiarias melhoravam o gosto dos alimentos deteriorados". Cravo, canela, noz moscada, gengibre e pimenta davam um sabor exótico. Custavam caro e eram apreciadas pelos ricos.
Com a tomada de Constantinopla pelos turcos (islamistas), em 1453, a viagem das especiarias complicara-se. Elas iam de navio para Jedá (rota marítima curta), na Arábia, em camelos para Damasco, na Síria, e de lá para Alexandria ou Beirute (rota terrestre), onde eram embarcadas para Veneza (pelo mar Mediterrâneo). Antes de 1497, os venezianos compravam 10 toneladas de especiarias por ano. No porão das naus, o volume (e o lucro) das cargas disparou: Cabral trouxe 100 toneladas das Índias; Vasco da Gama trouxe 1 500 toneladas, em 1502.
Em 1487, a dupla Pero Covilhã e Afonso de Paiva recebeu uma missão impossível: ir às Índias e descobrir, na África, o lendário rei cristão da Etiópia, Preste João, com quem os portugueses pretendiam aliar-se para reconquistar Jerusalém dos mouros. Os dois foram para Barcelona, Gênova e Alexandria, onde se separaram. Disfarçado de árabe, Covilhã foi de caravana até Áden, na Arábia, onde tomou um navio para Calicute. Andou na Índia e na Pérsia. Cruzou o Oceano Índico e voltou para a África. Foi ao Cairo para reencontrar Paiva, mas o companheiro morrera. Passou, então, aos emissários do rei de Portugal, informações que foram preciosas para a viagem de Vasco da Gama. E, embora cansado, assumiu a missão de Paiva: foi por terra até a Etiópia e visitou o rei Alexandre. Foi o primeiro a perceber que os cristãos etíopes eram muito pobres. E cercados por árabes. Jamais voltou a Portugal.
Bartolomeu Dias levou três caravelas ao extremo sul da África, uma só com suprimentos para enfrentar falta de alimento. Navegou quatro meses. Enfrentou motins da tripulação desesperada e ventos na África do Sul, mas, em agosto de 1487, conseguiu dar a volta ao Cabo das Tormentas (que após este momento passou a ser chamado Cabo da Boa Esperança). Voltou para Lisboa e ajudou a construir os navios de Vasco da Gama. Acompanhou sua esquadra até o arquipélago do Cabo Verde, mas ficou por lá. Em 1500, embarcou na armada de Cabral, esteve no Brasil, mas, ao dobrar novamente o Cabo da Boa Esperança, uma tempestade afundou seu navio. Morreu sem ir às Índias.
A chegada de Vasco da Gama à Índia não foi das mais cordiais. O samorim (rei) de Calicute sorriu com desdém quando o português mostrou os presentes que trazia: capuzes, chapéus, três bacias, uma caixa de açúcar, dois barris de azeite e dois potes de mel. Reles bugigangas. "Então foi para isso que o Ali Malandi (almirante) viajou tanto?" Aquele encontro, no dia 28 de maio de 1498 (oito dias após a chegada), foi um desastre. Os navios de Vasco da Gama foram imediatamente presos no porto. Quando os indianos passavam, cuspiam no chão e amaldiçoavam: "Portugal, Portugal". Vasco, então, jogou pesado, como era seu estilo. Seqüestrou seis nobres que subiram a bordo e obrigou o samorim a negociar. O indiano chamou-o e pediu mais seriedade. Se os portugueses queriam comércio, tudo bem, mas que trouxessem ouro, prata e tecidos de qualidade. E vermelhos, por favor. Foi assim, sob total desconfiança, que o comércio entre a Europa e Ásia foi reinaugurado.
A expedição reuniu o dream team da navegação portuguesa, escalado pelo rei. Pero de Alenquer era o melhor piloto do mundo. Pero Escobar descobrira o Congo, em 1485. Mesmo assim, dos 160 homens e quatro caravelas que partiram, só 55 voltaram, em dois navios. Logo na saída, um nevoeiro fez com que a esquadra se perdesse, só se reencontrando mais tarde. Na África, houve escaramuças com nativos. Para aproveitar os ventos do alto mar, a frota afastou-se bastante da costa (veja o mapa). Três meses depois da partida, dobrou o Cabo da Boa Esperança. No sétimo mês, as gengivas dos marinheiros começaram a apodrecer e as pernas ficavam roxas. Era o escorbuto, a doença causada pela falta de vitamina C. Morreram muitos. Uma nau foi queimada e a tripulação redistribuída. Em março de 1498, chegaram ao porto de Moçambique. Pela primeira vez, viram barcos árabes. O cais fervilhava de seres exóticos, de roupas coloridas e toucas com fios dourados. Havia carregamentos de ouro, prata, gengibre, pérolas e rubis. Era outro mundo. Com a ajuda de pilotos nativos, bordejaram a costa até Mombaça (hoje, no Quênia). O sultão local mandou laranjas para mostrar que era de paz, mas Vasco não desembarcou. Fez muito bem: escapou de um ataque à sua nau. Dali em diante, toda escala significava emboscada. "A sorte era que, apesar de dominarem a costa", diz o historiador Antonio Farinha, da Universidade de Lisboa, "os muçulmanos se dividiam em reinos rivais”. Graças à essa rivalidade, a sorte dos portugueses mudou. Quando chegaram em Melinde (também no Quênia), o sultão era amigável. Propôs uma aliança. Com a ajuda dele e de um piloto muçulmano hindu, a frota tomou uma decisão radical: afastar-se da costa e cruzar o Oceano Índico. Foi até fácil. No dia 20 de maio de 1498, chegaram em Calicute.
Cometaram uma gafe atrás da outra. Queriam tanto acreditar que os hindus eram cristãos, que confundiram um templo com uma igreja e uma estátua da deusa Devaki com a Virgem Maria. Álvaro Velho, o cronista da expedição, escreveu, muito iludido: "Jogaram água benta em nós. Havia santos pintados nas paredes da igreja, com coroas. Eram muito variados. Uns tinham dentes projetados da boca cerca de uma polegada, e quatro ou cinco braços”. Depois de concluir que o samorim não era trouxa, Vasco decidiu zarpar para Portugal. Na volta, morreram tantos marinheiros de escorbuto, que outro navio foi abandonado. Em setembro de 1499, a frota entrou de novo no Tejo.
No recrutamento de pessoas para as expedições portuguesas os músicos tocavam com força enquanto o escrivão examinava os moradores da vila de Viseu, no norte de Portugal. A indecisão era visível. A escolha, complicada: trocar a rotina melancólica de camponês pela glória incerta de marinheiro. No século XV, os recrutadores percorriam as vilas com bandinhas e promessas de riqueza. Reuniam a gente na praça e ofereciam a isca: 50% do salário ali mesmo, na hora, como garantia às famílias que cedessem o pai ou um filho. Mas exigiam fiador: o rei queria indenização se o voluntário, num ataque de bom senso, fugisse antes do embarque. Dois entre três homens que se arriscavam a singrar o "Mar Tenebroso" (como era chamado o Atlântico) jamais retornavam. Boa parte naufragava. Outro tanto sucumbia às condições sanitárias a bordo. Naufrágio, fome, doença, encalhes, piratas e ataques inimigos, eram o mínimo que um candidato a marinheiro deveria esperar. Dos 13 navios da armada de Cabral que veio ao Brasil, por exemplo, sete afundaram. Eram recrutados homens de 12 a 70 anos, mas meninos de 8 a 10 também embarcavam com os pais, como grumetes. Em missões perigosas, a coroa mandava presos e degredados. Se sobrevivessem, ganhavam de volta a liberdade.
A esquadra era comandada pelo capitão-mor, um fidalgo da pequena nobreza, escolhido pelo rei, em geral um militar provado em batalhas, que passava o cargo para filho - como o nobre dono de castelo legava a um descendente. Cada navio tinha seu capitão, o piloto e o mestre, que comandava os marinheiros. Os salários eram estipulados pela duração da viagem. Lucro, mesmo, dava o aprisionamento de navios estrangeiros. O rei ficava com 20%, o capitão-mor com 30% e o resto era dividido pela tripulação segundo a hierarquia.
Havia apenas um fogão à lenha a bordo, sobre uma chapa de ferro, coberta de areia. Com chuva ou muito vento não podia ser aceso. Comia-se muito peixe (às vezes cru), biscoitos úmidos (biscoito de marear, uma bolacha dura e salgada, quase sempre podre, perfurada por baratas e com bolor malcheiroso), carne de porco salgada e vinho diluído em água, que era racionadíssima. Para piorar, a comida e a água eram guardadas no porão, sem cuidados mínimos de higiene. A maioria dos marinheiros passava tão mal que não tinha forças para subir ao convés e fazer suas necessidades nos baldes reservados para isso. Faziam-nas no porão, muitas vezes já recoberto pelo fruto de seu próprio enjôo. O asseio era quase impossível. Banho só nas escalas, que podiam demorar semanas. A esse conjunto de circunstâncias tão favoráveis à proliferação de doenças é preciso acrescentar que naquela época o banho era considerado um malefício à saúde. Achava-se que dois, no máximo três por ano eram suficientes. Por isso, doenças de pele eram comuns. Para fazer as necessidades, usava-se um balde, pendurado do lado de fora do navio, para ser lavado pelas ondas. O papel higiênico era uma corda com a ponta desfiada, também dependurada no navio, uma espécie de pincel molhado à espera do próximo usuário. No sétimo mês, as gengivas dos marinheiros começavam a apodrecer e as pernas ficavam roxas. Era o escorbuto, a doença causada pela falta de vitamina C. Morriam muitos.
A medicina era precária. O almirante Fernão de Magalhães, que deu a volta ao mundo em 1519, tinha 65 drogas na farmácia. Uma delas era a teriaga, planta usada tanto contra verminoses e flechadas. Antes da aplicação, a ferida era queimada e regada com urina. Velas e cordas tinham que estar sempre prontas para as mudanças de vento. Havia poucas distrações. A missa, no domingo, era um programão. Apesar de proibido, o jogo corria solto.

Texto adaptado da superinteressante.


Você acha correto demonstrar como heróis da expansão marítima apenas os grandes navegadores? Porque?

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Nelson Marques Andrade